terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Arco e flecha ou besta e virotão?



Arco e flecha ou besta e virotão?

   Hoje não resisti a colocar uma história sobre o castelo de Braga.

   Lendo as velhas crónicas encontramos pequenas pérolas esquecidas e é impossível não tentar adaptá-las para o português actual para que possam ser lidas, entendidas e apreciadas por todos. A história do nosso castelo é completamente desconhecida, e quanto mais o tempo passa mais ignorante me sinto, ao descobrir que tem um passado tão recheado de aventuras.

   Não vou contar a história aqui, mas garanto que vale a pena ler com atenção. Vão ter uma agradável surpresa... Espero que também fiquem com dúvidas, pois eu próprio fiquei. Se pedirem, prometo que na próxima entrada do blogue explico com factos.

   Encontrei a história no segundo volume da História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga, escrita pelo Arcebispo Dom Rodrigo da Cunha, livro publicado em 1636. Podem encontrar o PDF para ler online ou descarregar no Centro de Documentação.

   Não vos minto,  quando a li pela primeira vez hoje, fiquei completamente sem palavras, maravilhado. É o tipo de história que dava um filme!

  

domingo, 9 de dezembro de 2018

Imagens diferentes do Castelo (e uma prenda de natal)

   O Mapa de Braunio é uma das imagens mais conhecidas de Braga.

Mapa de Braunio
   Este mapa, ou talvez melhor, esta vista panorâmica é atribuída ao gravador alemão Georg Braun, datada aproximadamente de 1594 e faz parte do seu trabalho "Civitates orbis terrarum". É até à data a vista ou mapa mais antigo conhecido da cidade de Braga. Não vou aprofundar muito sobre o seu impacto para o estudo da cidade, pois já existe inúmera documentação escrita sobre o tema, apenas o refiro porque apresenta uma imagem muito vívida do que poderia ser a forma do castelo de Braga por volta de finais do século XVI, princípios do século XVII.

Ampliação do castelo de Braga no Mapa de Braunio
   Esta imagem mostra já um castelo numa fase avançada e com elementos introduzidos posteriormente, como os torreões avançados mais conhecidos como Caramanchões. Se olharmos com atenção à legenda, até podemos ler "Urbis Praesidium", ou seja, já estava instalado no castelo o presídio ou cadeia municipal. Naturalmente que isto não implica uma perda total da função defensiva do castelo, mas diminui bastante essa mesma função e coloca-a em risco, pois passa a ter no interior da cidadela, um dos últimos reductos defensivos da cidade, uma população que pode facilmente virar-se contra os seus carcereiros e entregar o castelo ao inimigo como forma de obter indulto. A esta questão podemos colocar outras, como a obrigação de alimentar esta população em caso de assédio inimigo, a necessidade permanente de um contingente mínimo para manter a ordem ao mesmo tempo que existe a necessidade de organizar a defesa contra o inimigo exterior, e o facto de ter sido acrescentada uma construção anexa ao pano de muralha noroeste que enfraquece o mesmo e dificulta a sua defesa. Aliás, uma das primeiras ordens dadas pelos defensores em caso de assédio era a destruição imediata de todas e quaisquer construções pegadas ou perto dos muros das muralhas do castelo, tanto no seu interior como no exterior, de maneira a criar um espaço vazio que pudesse ser facilmente defendido e não permitisse ao inimigo ocupar posições protegidas perto do castelo.

   No entanto, vemos que as muralhas medievais continuam practicamente intactas e cercam a cidade na sua totalidade.

   Este mapa, ou vista, como eu prefiro chamá-lo, está practicamente 300 anos avançado no tempo, ou seja, passaram três séculos da sua construção inicial, pelo que em teoria já muitas alterações foram introduzidas. E como se trata de uma "Vista" e não de um mapa, não representa com fidelidade aquilo que existe. Não quer dizer no entanto, que não possamos olhar para o mesmo e procurar pistas sobre o nosso castelo. E nesta imagem à uma particularidade que me chama a atenção; o telhado, ou a cobertura da torre de menagem.

   Se compararmos a cobertura que aparece desenhada e a cobertura que existe actualmente na torre notaremos imediatamente uma grande diferença; o desenho e a altura da mesma cobertura.

Cobertura actual; fotografia do autor.

Vista lateral interior e exterior torre de menagem, SIPA

Ampliação do desenho do Mapa de Braunio; in capa da publicação da ASPA, "Torre de Menagem, castelo de Braga, 1530-1450", data desconhecida do autor.
   A diferença é óbvia. A cobertura actual é muito mais baixa e portanto, com uma inclinação muito menor. Quando observamos a torre de menagem não é possível ver a cobertura. Será uma distorção (outra) introduzida pelo autor da imagem? Vejamos dois exemplos próximos no espaço; o castelo de Lanhoso e o castelo de Guimarães:

Cobertura da torre de menagem do castelo de Lanhoso, por Fábio Silva

Vista aérea do castelo de Guimarães onde se pode observar a cobertura da torre de menagem, por A Terceira Dimensão - http://portugalfotografiaaerea.blogspot.com
   Outros muitos exemplos podemos encontrar.

   Então, qual seria a realidade? Como seria a cobertura original? A resposta está como sempre, preservada no tempo, em velhos documentos que hoje em dia podem ser encontrados com relativa facilidade graças à Internet e a estudos arqueológicos e arquitectónicos que nos podem responder com facilidade. Podemos inclusive encontrar algumas torres de menagem que preservaram a antiga cobertura, apesar de ter passado também por processos de reabilitação ou reconstrução ao longo dos séculos. Um dos exemplos mais emblemáticos está perto de nós, o castelo da Feira.

Castelo da Feira, imagem de Carlos Luís M. C. da Cruz, 2009
Castelo da Feira, imagem de Carlos Luís M. C. da Cruz, 2014
Castelo da Feira, imagem de Carlos Luís M. C. da Cruz, 2009
   Embora no castelo da Feira não possamos falar de uma torre de menagem típica ibérica, a mesma está rematada com quatro corucheus com as coberturas cónicas que se mantiveram num formato muito próximo do original; Coberturas altas, com bastante inclinação que practicamente abrangem todo o topo dos corucheus. Infelizmente o castelo sofreu inúmeras adaptações, melhorias e outro tipo de obras ao longo dos séculos, que o foram transformando num castelo senhorial, mais que num castelo típico estratégico da conquista cristã, mas por alguma razão que desconheço mantiveram a peculiaridade das coberturas primárias nos corucheus. Estes, em tempos terão sido em madeira e telha.

   Mas o melhor testemunho pode ser encontrado num livro, conhecido hoje em dia por "Livro das Fortalezas", desenhado por Dom Duarte de Armas.

Livro das Fortalezas de Duarte de Armas. Reedição do Arquivo Nacional da Torre do Tombo
   O Livro das Fortalezas foi encomendado a Duarte de Armas pelo Rei Dom Manuel I, tendo sido executado entre os anos de 1509 e 1510. O objectivo de Dom Manuel era o de vistoriar e conhecer o estado real das principais fortificações que protegiam o reino. Com base nestas observações, o monarca pode efectuar obras importantes nas mesmas ao mesmo tempo que empreendia grandes reformas de corrente centralizadora.

   Infelizmente para nós, o castelo de Braga não foi contemplado nestas reformas, talvez por Braga ser um Couto Eclesiástico e Dom Manuel pensar que as obras no castelo de Braga deveriam correr por conta do clero. De notar que, pelo percurso seguido por Duarte de Armas, muito provavelmente terá passado por Braga, uma vez que desenhou o castelo de Barcelos já no caminho de regresso.

   No entanto temos uma visão bastante clara do que Duarte de Armas viu, pois os seus desenhos são bastante realistas, contam na maioria dos casos com duas vistas distintas de cada fortificação e existem bastantes anotações escritas, como medidas, etc.

   E embora nem todos os castelos apresentem coberturas altas, podemos observar como elas existem e são usadas ou nas torres de menagem ou em torreões.

Castelo de Chaves
   Existem no entanto uma imagem que me chamam bastante a atenção; Castro Marim:

Castelo de Castro Marim
   Esta foi a vista que Duarte de armas viu quando se deteve em Castro Marim (1509). O castelo ainda deveria ter a maioria das benesses mandadas efectuar por Dom Dinis em 1301, e estava em obras de recuperação por ordem de Dom João II, altura em que lhe concedeu o foral novo (1504).

   É extraordinário, (pelo menos para mim, como estudante de carpintaria de estructuras medievais) como Duarte de armas traçou no papel as traves mestras que dariam origem às coberturas dos quatro torreões do castelo, deixando-nos uma imagem inédita e muito realista de como era realizada esta obra. Graças a referências noutros textos e desenhos de época estrangeiros, podemos ter a certeza que estes desenhos são bastante correctos, embora não pormenorizados. Noutra entrada do Blogue entrarei em detalhes sobre este tema.

   Existe ainda uma cópia, ou reedição do Livro das Fortalezas, feita pelo Escriba Brás Pereira em 1642 onde copia algumas das fortalezas mas em modo de aquarela.

Fronteira de Portugal fortificada; Brás Pereira, 1642
   Interessante nesta edição é um mapa no início, denominado "Limites de Portugal", onde podemos ver uma miniatura da cidade de Braga.

Limites de Portugal in Fronteira de Portugal fortificada; Brás Pereira, 1642
Ampliação da miniatura de Braga; Brás Pereira, 1642
   Nesta miniatura, que apresento pela primeira vez e que ainda não vi referida em qualquer trabalho publicado, podemos observar em primeiro plano o que parece ser o castelo de Braga, ou pelo menos a sua torre de menagem. Pode-se observar também a cidade amuralhada com o que parecem ser torres e dentro da cidade vários edifícios, sendo o mais importante, a Sé, encimada por uma cruz patriarcal. É uma cruz eclesiástica que aparece frequentemente associada aos patriarcas em que o braço superior representa a inscrição colocada por Pilatos. Este tipo de cruz foi adoptado por cardeais e arcebispos como uma distinção hierárquica.

   Embora esta imagem não aporte informações sobre a forma da cobertura da torre de menagem, não quis deixar de partilhar por ser practicamente desconhecida.

   E que outras provas poderemos ter de que a cobertura original da torre de menagem de Braga era diferente? Afinal, todas as coberturas das torres são muito parecidas hoje em dia?

   Não sendo uma prova directa, gostaria de deixar uma sugestão de leitura. Quem está ao corrente das campanhas de intervenção da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) iniciadas em 1929 pelo estado novo até sensivelmente 1960, com vista a recuperar os velhos monumentos nacionais e que, se serviu para recuperar algum do património que estava em vias de desaparecer, também serviu para criar muitos dos mitos que ainda hoje perduram.

   Uma das frases mais conhecidas da época, que viria a dar título a um trabalho de análise sobre este tema, é bastante elucidante:

"Compor ameias em castelos como dentes em dentaduras"

   Embora tivesse havido lugar a algum estudo prévio sobre o património arquitectónico a restaurar, os estudos não estavam numa fase muito avançada a nível científico, a arqueologia estava numa fase  pioneira e, sejamos honestos, interessava criar uma imagem estilizada, focalizada na transmissão da heroicidade dos antepassados, pouco importando o verdadeiro rigor histórico.

   Era um castelo? Então tinha de ter ameias. Era uma casa forte? Não importa, ameias na mesma. Era um castelo senhorial do século XVIII sem qualquer função de defesa e importância histórica medieval? Ponham ameias nisso! A expressão pegou e passou a ser corrente, como forma de escárnio aos ditos doutores de história e arqueologia de então.

   Foi nesta altura que as coberturas também foram uniformizadas, infelizmente. As coberturas, os pisos, os acessos... Desta vez Braga não teve culpa. Foi atrás das ordens. Será que podia ter feito as coisas diferentes? Duvido, não com aquele regime.

   Também devemos ter em atenção que a torre de menagem do castelo de Braga foi parcialmente destruída pelo menos duas vezes, mas a história já vai longa.

    Entretanto uma nova vista ou "mapa" me chegou às mãos graças à generosidade do Sr. Professor Henrique Barreto Nunes. Conhecido apenas pelo "Mapa do Séc. XVII" a imagem circula em baixa definição pela Internet há bastantes anos, mas só agora, graças ao Sr. Professor tive acesso ao trabalho publicado na íntegra.

    "Uma imagem inédita de Braga no Séc. XVII"; Textos de Miguel Melo Bandeira e Eduardo Pires de Oliveira com introdução de Henrique Barreto Nunes. Publicado como Separata da Revista Fórum, pela Biblioteca Pública de Braga em 1994.


   Não vou escrever hoje sobre esta imagem, pois ainda a estou a estudar e tenho bastantes dúvidas. Quando me sentir preparado, prometo que ficará aqui para todos. Até lá gostaria de propor um novo dito "popular", parecido com o que acima mencionei para isto de reabilitação de castelos e outros monumentos;

"Compor telhados em torres e castelos como perucas em calvos e carecas..."


 

domingo, 2 de dezembro de 2018

Redescoberta de um pouco de história escondida.


Ontem, novamente graças a boa vontade e generosidade de um particular "redescobrimos" mais um bocado da muralha pertencente ao Castelo de Braga. De acordo com os estudos que estão disponíveis, esta secção do pano de muralha é uma incógnita. A secção Sudeste desde muito cedo foi aproveitada por edificações, tal como aconteceu com a secção Este (Arcadas e a Igreja da Lapa).


Em 1905, quando da destruição do Castelo, esta secção do pano de muralha já estava completamente edificada, o que ajudou a preservar a mesma e evitar a sua destruição. Infelizmente, e com o passar do tempo, os edifícios foram sendo reabilitados, foram crescendo, ocultando assim completamente a muralha e caindo no esquecimento.

Circa 1906
Na fotografia, à direita, podemos observar as obras de construção da Escola Comercial de Braga, virada para a actual Rua do Castelo. Ao fundo podemos observar o pano Sudeste, ainda com as suas ameias e merlões a servir de parede de sustentação aos edifícios que já existiam virados ao actual Largo do Barão de São Martinho. Prova como este pano foi conservado quase na sua totalidade.

SIPA, Circa 1940
Na fotografia podemos ver as obras de construcção dos anexos traseiros aos restaurantes das Arcadas. Se observarmos com atenção para o fundo, podemos ver como já existiam construções antigas.

Mappa de Braga Primas; 1775

Edificações podem ser já observadas no local no mapa "Braga Primaz", mas a confiar no desenho, a altura das mesmas não ocultava as ameias. Acho que vale a pena mencionar que no Mapa de Braunio (1594) não aparecem estas construções mas já parecem existir no chamado "Mapa do século XVII" (1755) e aparecem claramente no frontispício do "Mapa das Ruas da Cabido" (1750).

Mapa de Braunio; 1594
Mapa do Século XVII
Frontispício do "Mapa das Ruas da Cabido"; 1750

Esta informação será importante quando escrever sobre a perda de relevância militar do Castelo. 

Mas afinal, onde está exactamente esta novo bocado? Vejamos:

Imagem adaptada de:
"Braga entre a Idade Romana e a Idade Moderna", Maria do Carmo Franco Ribeiro

A vermelho podemos ver os panos de muralha que sobreviveram à destruição e a verde as zonas já exploradas e fotografadas. O círculo roxo representa a entrada principal do Castelo e o X com a seta representa a zona fotografada agora.

Largo Barão de São Martinho

Para podermos visitar estas velhas ruínas temos de entrar numa loja. Nessa loja nos N.º 68/71, nos fundos, protegida por uma parede de vidro lá está, à nossa espera...

Prédio 68 / 71

Por enquanto deixo apenas três fotografias, das muitas que tirámos. Várias possuem marcas de canteiro e verifica-se como foi reutilizada ao longo dos anos, por exemplo, devido às marcas deixadas pela existência de uma escada embutida na muralha, de altura muito posterior.

Infelizmente a muralha apresenta-se bastante deteriorada, com muita humidade e mesmo chuva que cai quando o tempo piora. O granito apresenta-se muito escamado e existe a presença de crescimento vegetal nalguns locais.






É de louvar que quando este edifício foi remodelado foi mantido afastado do pano de muralha, ao contrário do que aconteceu com os primeiros. Graças a isto podemos hoje observar esta secção.

Fátima Jácome

A actual "Madrinha" desta secção é a loja "Fátima Jácome", à qual deixamos desde já o nosso maior agradecimento por nos ter permitido a visita e fotografar, mesmo com clientes. Fica a sugestão para uma colecção inspirada na "Guerra dos Tronos", cujas fotografias podem ter como fundo a muralha do Castelo.

Passem por lá, peçam autorização para visitar a muralha e aproveitem façam já as compras de Natal 😄😄😄

NOTA: Decidimos partilhar o endereço de Facebook da loja como forma de agradecimento. Como aqueles que nos seguem já sabem, nem sempre nos permitem visitar os locais. Talvez sirva de incentivo a outros comerciantes... 

sábado, 20 de outubro de 2018

Cerco de Braga de 1385 pelo Santo Condestável Nuno Álvares Pereira, parte I




Chronica de el-rei D. João I

Por Fernão Lopes


Capitulo XIV


"Estando em Braga Vasco Lourenço, irmão de Lopo Gomes, depois que perdeu Neiva, como tendes ouvido, mantinha voz por el-reide Castella, entendeu estava alli seguro, e n’aquelle dia que Guimarães foi tomado começaram os da cidade de Braga haver razões com os do castello, que andavam pelas ruas, sobre estas cousas que el-rei e o condestabre faziam; em tanto que vieram haver arruido com elles, e começaram jogar ás cutiladas e ás lançadas brandando os de fóra por appellido Portugal, Portugal por el-rei D. João, até que encerraram os do castello dentro em elle, e começaram-lhe logo de tirar com quatro engenhos que hi estavam, e logo em esse dia mandaram dizer a el-rei a Guimarães, que era d’ahi tres leguas, que viesse á cidade, que já a villa estava por elle, e que viesse tomar o castello, antes que houvesse algum accorro.




   El-rei esse dia por noite mandou lá Mem Rodrigues de Vasconcellos e Martim Paulo Gascon, cavalleiros, com gentes quantas cumpria, e escreveu logo ao condestabre, que estava ainda na aldeia onde o leixamos, a par do Minho, com certos homens bons de Braga, e lhe enviaram dizer que já Braga estava por elle, que fosse tomar o castello, e que por quanto Vasco Lourenço o tinha por seu irmão Lopo Gomes, e lhe podia mandar algum accorro, que lhe mandava que logo á pressa se viesse á cidade e trabalhasse de a tomar.

O condestabre como tal mandado houve d’el-rei, prouve-lhe muito d’ello, especialmente pelo embargo que havia de não poder passar o Minho; e logo sem mais tardança á pressa partiu com suas gentes per junto com Ponte de Lima, onde estava Lopo Gomes, e chegou a Braga e apozentou-se na villa, que já estava por el-rei.



   Em outro dia mandou dizer a Vasco Louurenço que lhe entregasse aquelle castello pera seu senhor el-rei, e Vasco Lourenço lhe enviou dizer que o não faria por nenhuma guisa.

Entonce ordenou o conde de o combater, e mandou-lhe tirar com aquelles quatro engenhos que achou na cidade, os quaes lhe tiraram continuadamente por espaço de duas noites e um dia, de guisa que eram dentro no castello alguns mortos e feridos. E vendo Vasco Lourenço que o não podia mais soffrer, e que em elle não havia defensão, mandou mover preitezia com o condestabre, pedindo-lhe por mercê que o leixasse ir em salvo, e aquelles que com elle estavam com todo seu, e que lha daria o castello, a ao conde prougue e recebeu-o logo, e elle sahiu d’alli com tão pouca honra, como partiu de Neiva, e o conde ficou em posse da cidade."



Na segunda parte desta entrada tentarei analisar as técnicas de cerco e armas envolvidas nesta acção militar, mas principalmente, o que torna este cerco muito interessante como caso de estudo e explicar como o castelo de Braga tem uma importância histórica relevante devido à dualidade existente em Braga entre o poder clerical e o poder real.



Para a recolha deste texto foi utilizada a seguinte edição:

Chronica de el-rei D. João I
Por Fernão Lopes
Bibliotheca de Classicos Portuguezes
Volume IV
Pp. 54-55
Lisboa, 1897