sábado, 20 de outubro de 2018

Cerco de Braga de 1385 pelo Santo Condestável Nuno Álvares Pereira, parte I




Chronica de el-rei D. João I

Por Fernão Lopes


Capitulo XIV


"Estando em Braga Vasco Lourenço, irmão de Lopo Gomes, depois que perdeu Neiva, como tendes ouvido, mantinha voz por el-reide Castella, entendeu estava alli seguro, e n’aquelle dia que Guimarães foi tomado começaram os da cidade de Braga haver razões com os do castello, que andavam pelas ruas, sobre estas cousas que el-rei e o condestabre faziam; em tanto que vieram haver arruido com elles, e começaram jogar ás cutiladas e ás lançadas brandando os de fóra por appellido Portugal, Portugal por el-rei D. João, até que encerraram os do castello dentro em elle, e começaram-lhe logo de tirar com quatro engenhos que hi estavam, e logo em esse dia mandaram dizer a el-rei a Guimarães, que era d’ahi tres leguas, que viesse á cidade, que já a villa estava por elle, e que viesse tomar o castello, antes que houvesse algum accorro.




   El-rei esse dia por noite mandou lá Mem Rodrigues de Vasconcellos e Martim Paulo Gascon, cavalleiros, com gentes quantas cumpria, e escreveu logo ao condestabre, que estava ainda na aldeia onde o leixamos, a par do Minho, com certos homens bons de Braga, e lhe enviaram dizer que já Braga estava por elle, que fosse tomar o castello, e que por quanto Vasco Lourenço o tinha por seu irmão Lopo Gomes, e lhe podia mandar algum accorro, que lhe mandava que logo á pressa se viesse á cidade e trabalhasse de a tomar.

O condestabre como tal mandado houve d’el-rei, prouve-lhe muito d’ello, especialmente pelo embargo que havia de não poder passar o Minho; e logo sem mais tardança á pressa partiu com suas gentes per junto com Ponte de Lima, onde estava Lopo Gomes, e chegou a Braga e apozentou-se na villa, que já estava por el-rei.



   Em outro dia mandou dizer a Vasco Louurenço que lhe entregasse aquelle castello pera seu senhor el-rei, e Vasco Lourenço lhe enviou dizer que o não faria por nenhuma guisa.

Entonce ordenou o conde de o combater, e mandou-lhe tirar com aquelles quatro engenhos que achou na cidade, os quaes lhe tiraram continuadamente por espaço de duas noites e um dia, de guisa que eram dentro no castello alguns mortos e feridos. E vendo Vasco Lourenço que o não podia mais soffrer, e que em elle não havia defensão, mandou mover preitezia com o condestabre, pedindo-lhe por mercê que o leixasse ir em salvo, e aquelles que com elle estavam com todo seu, e que lha daria o castello, a ao conde prougue e recebeu-o logo, e elle sahiu d’alli com tão pouca honra, como partiu de Neiva, e o conde ficou em posse da cidade."



Na segunda parte desta entrada tentarei analisar as técnicas de cerco e armas envolvidas nesta acção militar, mas principalmente, o que torna este cerco muito interessante como caso de estudo e explicar como o castelo de Braga tem uma importância histórica relevante devido à dualidade existente em Braga entre o poder clerical e o poder real.



Para a recolha deste texto foi utilizada a seguinte edição:

Chronica de el-rei D. João I
Por Fernão Lopes
Bibliotheca de Classicos Portuguezes
Volume IV
Pp. 54-55
Lisboa, 1897



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